“Como Jesus estivesse à mesa na casa desse homem [Mateus], numerosos publicanos e pecadores vieram e sentaram-se com ele e seus discípulos. Vendo isto, os fariseus disseram aos discípulos: "Por que come vosso mestre com os publicanos e com os pecadores?”. Jesus, ouvindo isto, respondeu-lhes: "Não são os que estão bem que precisam de médico, mas sim os doentes. Ide e aprendei o que significam estas palavras: Eu quero a misericórdia e não o sacrifício. Eu não vim chamar os justos, mas os pecadores”” (Mt 9, 10-13).
Durante todo o tempo que passou entre nós, Jesus buscou levar o Reino de Deus a todas as pessoas, especialmente aos mais necessitados. Como bem disse Jesus, as pessoas que estão bem não precisam de cuidados, mas sim aqueles que estão doentes, ou seja, os que necessitam de ajuda e consolo. Estes receberam de Cristo todo o amor, a fraternidade e o serviço.
Jesus afirma, no discurso da montanha, que os que têm coração pobre e os que choram são bem aventurados e verão a glória de Deus em suas vidas. Ele também deixa claro, com suas palavras e mais ainda com suas atitudes, que entre os beneficiários do Reino de Deus estão os pobres. Não por mérito deles, mas pela situação de injustiça e exclusão em que se encontram, o que faz com que o Reino intervenha a favor deles.
Buscando concretizar as promessas de Cristo e o Reino de Deus no meio de nós, a Igreja tem como uma de suas prioridades o auxílio aos pobres. E entre as ações que a Paróquia São José Operário faz para dar sua contribuição a estes irmãos necessitados está a Pastoral de Rua, que aos sábados, com muito carinho, cozinha e entrega uma refeição a cada pessoa que está em situação de rua.
No final do ano, enquanto muito se fala em prosperidade, felicidade, saúde e paz, não podemos esquecer de que não são só nossos familiares e amigos que merecem presentes e desejos sinceros de um novo ano com muitas bênçãos e realizações. Precisamos lembrar daqueles que mais precisam, orar sempre por eles e, é claro, fazer com que nossas palavras não se percam, pelo contrário, possam ser colocadas em prática.
Com este objetivo e também a fim de proporcionar um lindo e agradável dia para aqueles que não têm um teto sob o qual viver, a Pastoral de Rua organizou – como faz todo fim de ano – um dia com os serviços, a atenção e o carinho e, principalmente, a dignidade que eles merecem. Na igreja Nossa Senhora de Lourdes, nossos irmãos foram os convidados especiais.
O evento aconteceu dia 11 de dezembro, no Domingo da Alegria. E a ocasião não poderia ser outra. Afinal, a grande recompensa do dia para todos aqueles que, com muita humildade, amor, gratuidade e serviço, ajudaram a realizar esta confraternização, foi ver a alegria no rosto destas pessoas; ver um sorriso sincero, tão difícil na rua.
As cerca de mais de 30 pessoas que compareceram à Igreja foram recepcionadas com um belo café da manhã. Depois todos ainda receberam roupas e calçados doados. Nossos irmãos de rua também tiveram o cabelo cortado e a barba feita. Depois de um bom banho, alguns ainda contaram com atendimento de Enfermagem e quem quis também deu início a um acompanhamento de assistência social.
Todos foram convidados a participar da Santa Missa, onde foram homenageados. Mas o dia não parou por aí. Todos que estavam presentes – tanto os membros da pastoral e do grupo jovem da N. Sr. de Lourdes, como aqueles em situação de rua - almoçaram juntos como verdadeiros irmãos que somos em Cristo.
Um show da banda Inspiração Divida, uma peça teatral encenada pelos jovens na igreja, e a partilha de um bolo dedicado aos nossos irmãos e aos 11 anos de Pastoral de Rua, tornaram a tarde ainda mais festiva e alegre. Mas os presentes que Deus ofereceu neste dia não foram apenas para eles. Bênçãos também foram derramadas em todos que trabalharam, pois foi uma ótima oportunidade para dar valor a tudo o que temos e também para saber um pouco mais da história de vida dessas pessoas e compreendê-las um pouco mais.
Há quase dez anos morando na rua, Juarez se sustenta catando latinha, com as quais ganha R$2 por quilo conseguido. Quando falta até o essencial para comer, a solução é ir à feira para conseguir uma xepa. Juarez deixou sua casa, em Nova Iguaçu, depois da morte de sua esposa. Mesmo com pai e filhos, Juarez vive sozinho, e, por conta própria, busca o pão e o sustento de cada dia.
Com 27 anos, Joelson Ricardo está a alguns meses na rua. O motivo: uma briga séria entre ele e o irmão. Joelson, que morava com o irmão e a avó, deixou o conforto de sua casa, para, segundo ele, “não piorar ainda mais a situação”. Ele que perdeu a mãe quando tinha 16 anos, diz que não há nada pior do que ver quem a gente mais ama indo embora.
Os jovens fazem parte de uma grande parcela da população de rua. Problemas na família e dificuldades de relacionamento, como foi o caso de Joelson, e envolvimento com drogas e com o crime são as principais causas que tiram os jovens dos seus lares. E foi justamente isso que aconteceu com Willian, de 28 anos, há dois, na rua. O jovem assume que o envolvimento dele com o crime foi o que o tirou do seio de sua família.
Mas Willian afirma de deixou a vida fora da lei, porém abandonado pela família, não tinha mais para onde ir e foi parar na rua. Mesmo se afastando das más companhias, os problemas e preocupações não cessaram. Há alguns meses, Willian e seus companheiros sofreram um atentado. Duas pessoas atiraram no grupo de moradores que dormia em uma calçada. Willian levou oito tiros, mas, graças a Deus, conseguiu sobreviver. Hoje, dorme durante o dia e passa as noites acordado.
Seu sonho hoje é conseguir um emprego e ter onde morar. “As pessoas não se dão conta, mas ter uma casa para morar é a coisa mais valiosa que existe, a única coisa que realmente importa”. Incrível como aqueles que nós geralmente não queremos ao nosso lado, podem nos ensinar tanto.